Evangelho no Lar

22 \22e novembro \22e 2008

O que é o Culto do Evangelho no Lar? Culto no Lar é a reunião íntima e informal que todos nós devemos realizar em nossas casas com os nossos familiares em benefício da harmonização do lar

Como devemos realizá-lo?

Primeiro, escolhemos um dia da semana e hora certa para fazê-lo. Reunimos os nossos familiares. Lemos uma página de ambientação, (nós, particularmente, gostamos muito do livro “Jesus no Lar”). Em seguida, fazemos uma prece. Em seguida, lemos um trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.

Após a leitura, iniciamos uma conversa fraterna sobre as páginas lidas. E, depois, uma prece de encerramento. Podemos colocar, também, água a ser fluidificada, para depois bebermos.

Isso não é uma regra, porque ela pode ser adequada as necessidades de cada família. Por exemplo, quem tem crianças, para que elas possam, também, participar, é interessante fazermos leituras de textos adequados à faixa etária das crianças. Outros gostam de fazer leitura de O Livro dos Espíritos. Outros, das obras de André Luiz. Mas sempre se deve fazer a leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo, porque a finalidade precípua é fazer o Culto do Evangelho no Lar.

Para que fazemos isso?

Todos nós sabemos que temos amigos espirituais e aqueles que não são muito amigos. E mesmo às vezes em nossas famílias, nem todos os espíritos, ali reunidos, são espíritos afins. Muitas das vezes, nos reunimos em família para aprendermos a amar e perdoar. E o Culto do Evangelho no Lar funciona como um elemento catalisador, harmonizador, evangelizador para todos os que ali estão.

Quais são os benefícios?

O entendimento, a aproximação, a pacificação e a harmonização.

O Culto do Evangelho no Lar tem as maiores variações possíveis. Ele não só serve para o nosso lar, como também serve como um foco de luz para a nossa vizinhança, e até mesmo para a nossa rua e a nossa localidade, onde moramos. Muitos poderão dizer: Mas, a única pessoa espírita em minha casa sou eu! Outros poderão dizer: Eu moro sozinho. Outros poderão dizer: Eu não tenho condição espirituais para dirigir um culto. E eu só posso dizer o seguinte: Sejam quais forem as dificuldades, tentem, comecem, façam.

Vou citar uma experiência de uma companheira, que é muito interessante e nos foi passado no atendimento fraterno: jovem, espírita, acostumada a fazer o Culto do Evangelho no Lar, casou-se com um rapaz que tinha o vício do alcoolismo e tentou implantar no seu novo lar, o culto. O seu esposo, embora pessoa boa, todas as vezes que se alcoolizava transformava-se em um homem extremamente violento. E a jovem procurava fazer o seu culto em dias que ela achava que ele não iria beber. Mas parecia que um “mosquitinho” cochichava no ouvido dele, e por mais que ela mudasse os dias de semana para a realização do seu culto, era justamente naquele dia que ele bebia. E chegava em casa no horário certo do culto. Fazia uma arruaça, rasgava o Evangelho, dizia que não queria aquelas práticas dentro de sua casa. E a jovem, por ser muito convicta da utilidade do Culto no Lar, teve uma feliz idéia: passou a fazer o seu culto dentro do box do banheiro, utilizando já o seu Evangelho todo desfolhado… Passaram-se anos. O nosso amigo ficou muito doente e, com a perseverança da nossa jovem, ele passou a sentar-se à mesa para fazer o culto junto com a sua família. Alguns anos depois, o seu esposo desencarna e numa comunicação que ele dá, agradece a Deus o bem que fez ao seu espírito aquelas reuniões de culto no lar que ele participou.

Por isso, meus queridos, não deixem de fazer o Culto do Evangelho no seu lar, ou, ao menos, o hábito da leitura do evangelho. Temos companheiros que, devido a dificuldade de horários da família, (trabalho, estudo etc), fazem uma leitura do Evangelho diariamente, na hora do café, ou do jantar ou do almoço. O importante é a presença da leitura do Evangelho Segundo o Espiritismo em nossos lares.

Publicado na Revista Cristã de Espiritismo
Ao usar o texto, por favor, citar a fonte


Obras Básicas para download

12 \12e julho \12e 2008

As obras básicas do Espiritismo estão disponíveis (em formato pdf) para download gratuito no site da Federação Espírita Brasileira.

Obras básicas

Outras Obras de Kardec


O que é o Espiritismo

12 \12e julho \12e 2008

DOUTRINA ESPÍRITA ou ESPIRITISMO

O que é

  • É o conjunto de princípios e leis, revelados pelos Espíritos Superiores, contidos nas obras de Allan Kardec que constituem a Codificação Espírita: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.
  • “O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.” Allan Kardec (O que é o Espiritismo – Preâmbulo)
  • “O Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.” Allan Kardec (O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. VI – 4)

O que revela

  • Revela conceitos novos e mais aprofundados a respeito de Deus, do Universo, dos Homens, dos Espíritos e das Leis que regem a vida.
  • Revela, ainda, o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o objetivo da nossa existência e qual a razão da dor e do sofrimento.

Sua abrangência

  • Trazendo conceitos novos sobre o homem e tudo o que o cerca, o Espiritismo toca em todas as áreas do conhecimento, das atividades e do comportamento humanos, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.
  • Pode e deve ser estudado, analisado e praticado em todos os aspectos fundamentais da vida, tais como: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional, social.

Seus ensinos fundamentais

  • Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
  • O Universo é criação de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais.
  • Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados.
  • No Universo há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução: iguais, mais evoluídos e menos evoluídos que os homens.
  • Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais.
  • O homem é um Espírito encarnado em um corpo material. O perispírito é o corpo semimaterial que une o Espírito ao corpo material.
  • Os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo.
  • Os Espíritos são criados simples e ignorantes. Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade.
  • Os Espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação.
  • Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento.
  • Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição.
  • Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado: Espíritos Puros, que atingiram a perfeição máxima; Bons Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que predomina; Espíritos Imperfeitos, caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores.
  • As relações dos Espíritos com os homens são constantes e sempre existiram. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, sustentam-nos nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os imperfeitos nos induzem ao erro.
  • Jesus é o guia e modelo para toda a Humanidade. E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus.
  • A moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade.
  • O homem tem o livre-arbítrio para agir, mas responde pelas conseqüências de suas ações.
  • A vida futura reserva aos homens penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus.
  • A prece é um ato de adoração a Deus. Está na lei natural e é o resultado de um sentimento inato no homem, assim como é inata a idéia da existência do Criador.
  • A prece torna melhor o homem. Aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo. é este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.

PRÁTICA ESPÍRITA

  • Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do Evangelho: “Dai de graça o que de graça recebestes”.
  • A prática espírita é realizada com simplicidade, sem nenhum culto exterior, dentro do princípio cristão de que Deus deve ser adorado em espírito e verdade.
  • O Espiritismo não tem sacerdotes e não adota e nem usa em suas reuniões e em suas práticas: altares, imagens, andores, velas, procissões, sacramentos, concessões de indulgência, paramentos, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso, fumo, talismãs, amuletos, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais ou quaisquer outros objetos, rituais ou formas de culto exterior.
  • O Espiritismo não impõe os seus princípios. Convida os interessados em conhecê-lo a submeterem os seus ensinos ao crivo da razão, antes de aceitá-los.
  • A mediunidade, que permite a comunicação dos Espíritos com os homens, é uma faculdade que muitas pessoas trazem consigo ao nascer, independentemente da religião ou da diretriz doutrinária de vida que adotem.
  • Prática mediúnica espírita só é aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita e dentro da moral cristã.
  • O Espiritismo respeita todas as religiões e doutrinas, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, independentemente de sua raça, cor, nacionalidade, crença, nível cultural ou social. Reconhece, ainda, que “o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”.
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“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.”

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“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”

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O estudo das obras de Allan Kardec é fundamental
para o correto conhecimento da Doutrina Espírita.

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Fonte: Site da Federação Espírita Brasileira
http://www.febnet.org.br


Relembrando Kardec

28 \28e junho \28e 2008

Escrito por Christiano Torchi

Hippolyte Léon Denizard Rivail, nome civil de Allan Kardec, reencarnou em Lyon, França, aos 3 de outubro de 1804, como filho de Jean Baptiste Antoine Rivail (juiz de direito) e de Jeanne Louise Duhamel, ambos católicos.

Aproximadamente aos dez anos, foi encaminhado a Yverdun, cidade da Suíça, a fim de completar seus estudos em uma escola-modelo da Europa, que funcionava em regime de internato, dirigida pelo célebre pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827).

Aos dezoito anos, retornou à França, fixando-se em Paris, centro da cultura mundial, onde predominava a corrente filosófica do Positivismo, defendida por Augusto Comte. Rivail dedicou-se à instrução e à educação durante aproximadamente trinta anos, tendo sido, inclusive, diretor de escola e professor. Escreveu vários livros didáticos sobre diversos assuntos, entre os quais, aritmética, gramática francesa, química, física, astronomia e anatomia comparada.

Influenciado pelas idéias de Pestalozzi, também escreveu livros sobre a reforma do ensino. Mais tarde, foi compelido a deixar o magistério em virtude do regime educacional implantado na época do imperador Napoleão I, que restringia a liberdade de ensino. Em 1852, teve problemas de vista e quase ficou cego.

Estudou durante trinta e cinco anos o magnetismo, adquirindo sólidos conhecimentos a respeito. Exerceu, ainda, a função de contabilista e tradutor de obras estrangeiras, uma vez que dominava outras línguas, além do francês, entre elas, alemão, inglês, italiano e espanhol.

Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, na obra Allan Kardec, esclarecem que, aos 24 anos, sua preocupação científica e seu caráter eminentemente positivo o fariam escrever numa obra sobre Educação Pública: “Aquele que houver estudado as ciências rirá, então, da credulidade supersticiosa dos ignorantes. Não mais crerá em espectros e fantasmas, não mais aceitará fogos-fátuos por Espíritos”.

Foi, portanto, como racionalista estudioso, avesso ao misticismo, que ele se pôs a examinar os fatos relacionados com as “mesas girantes e falantes”, fenômeno que eclodiria, mais tarde, na Europa, chamando a atenção do mundo inteiro (Obras Póstumas, Feb, p. 265-276).

A esse respeito, analisemos o pensamento transparente do próprio Kardec: “Tendo adquirido, no estudo das ciências exatas, o hábito das coisas positivas, sondei, perscrutei esta nova ciência (o Espiritismo) nos seus mais íntimos refolhos; busquei explicar-me tudo, porque não costumo aceitar idéia alguma, sem lhe conhecer o como e o porquê.”– (O Que é o Espiritismo, p. 79).

Aos vinte e oito anos, casou-se com Amélie Gabrielle Boudet, também professora e escritora, nove anos mais velha que ele. Não tiveram filhos, o que permitiu ao casal dedicação intensa à nobre missão de educar.

O contato com os espíritos

Aos cinqüenta anos, o professor Rivail tomou conhecimento, pela primeira vez, da existência das mesas girantes e falantes, por meio do Sr. Fortier (outro estudioso do magnetismo). Certa vez, Rivail encontrou-se com um amigo (Sr. Carlot) e este lhe contou a novidade: compareceu a uma reunião em que as mesas não apenas se movimentavam, mas também se comunicavam.

Rivail não levou a sério tal notícia, em virtude do temperamento brincalhão do informante. Entretanto, ao avistar-se novamente com o Sr. Fortier, este lhe confirma as observações do Sr. Carlot. Diante de tão incrível informação, esta foi a reação “positivista” de Rivail: “Só acreditarei quando vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto da carochinha”. A maioria dessas reuniões, praticada nas rodas sociais, era pública e de caráter leviano, em que as pessoas faziam perguntas fúteis aos espíritos, com relação ao passado, ao futuro e aos fatos corriqueiros da vida particular de cada um.

Levado pelo Sr. Fortier a uma reunião privada, de caráter sério, na residência da Sra. Planeimason, Rivail confirma o que lhe haviam dito. A princípio, Rivail, apoiado nos estudos do magnetismo, considerou que o movimento das mesas pudesse ocorrer por causa dos fluidos elétricos emanados do próprio corpo físico, mas, posteriormente, verificou que os fenômenos provinham de uma causa inteligente independente do médium.

Foi então que o eminente professor passou a comparecer a essas reuniões, movido pelo espírito de pesquisa, oportunidade em que formulava perguntas elaboradas por antecipação, algumas de cunho filosófico e científico. Percebeu, então, que nem todos os espíritos sabiam respondê-las, enquanto outros o faziam com uma profundidade jamais vista. Deduziu, a partir destas observações, que a simples morte física dos homens não os transforma em santos ou sábios. Eles continuam a ser o que foram em vida, com suas virtudes e com seus defeitos.

Ante a importância da magna revelação da Espiritualidade trazida à Terra, Rivail exclamou: “Entrevi naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo. […] Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave de um problema obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspecção [seriedade] e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir”.

Perto dos 50 anos, pela primeira vez, Rivail tomou conhecimento oficial da sua missão de codificador da doutrina espírita, por meio de uma comunicação espiritual. Foi na casa do Sr. Roustan, através da médium Japhet. O espírito, que se autodenominou “Espirito de Verdade”, disse-lhe: “Confirmo o que foi dito, mas recomendo-te discrição, se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem.”

A missão de Rivail foi confirmada por mais duas vezes, através de médiuns diferentes, em ocasiões e lugares distintos. Assim que tomou consciência da gravidade do chamado que ecoava do Mundo Maior, elevou uma prece ao Criador, mais ou menos nestes termos: “Senhor! pois que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! Está nas tuas mãos a minha vida; dispõe do teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa-vontade não desfalecerá, as forças, porém, talvez me traiam. Supre a minha deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu auxílio e dos teus celestes mensageiros, tudo envidarei para corresponder aos teus desígnios.”

A missão de Kardec

Antes das confirmações de sua missão, Rivail não estava muito motivado com o trabalho que se lhe antepunha, pois não se sentia à altura de exercer tarefa de tamanha magnitude, o que demonstra, mais uma vez, a humildade e a grandeza moral do codificador. Nessa época, alguns amigos e intelectuais insistiram para que aceitasse a tarefa. Eles, que já coletavam material há mais de cinco anos, passaram-lhe cinqüenta cadernos com centenas de comunicações de inúmeros espíritos, colhidas por meio de diferentes médiuns, que cabia a Rivail estudar, classificar, coordenar, organizar e deduzir-lhes as conseqüências. E assim o fez, continuando a freqüentar as reuniões mediúnicas sérias, ocasião em que fazia várias perguntas, submetendo ao crivo da razão e da lógica os ensinamentos dos espíritos. Quando se deu conta, estava totalmente envolvido no projeto, época em que teve a inspiração de reunir aquelas informações em livros, sendo o primeiro deles O Livro dos Espíritos, em forma de perguntas e respostas, finalmente publicado em 18 de abril de 1857.

Faz-se relevante mencionar que Kardec teve, a princípio, grande dificuldade de aceitar o princípio da reencarnação, que não lhe passava pela idéia. Vejamos a sua opinião a respeito: “Esta teoria [da reencarnação] estava tão longe do nosso pensamento quando os espíritos no-la revelaram, que ela nos surpreendeu de maneira estranha, porque, confessamo-lo com toda a humildade, o que Platão havia escrito sobre esse assunto especial nos era totalmente desconhecido, mais uma prova, entre mil outras, de que as comunicações que nos têm sido dadas não refletem, absolutamente, a nossa opinião pessoal. A doutrina dos espíritos acerca da reencarnação nos surpreendeu, pois; diremos mais: contrariou-nos, porque lançava por terra nossas próprias idéias.”.

Por ser o seu nome muito conhecido no mundo científico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, e podendo originar confusão, talvez mesmo prejudicar o êxito do empreendimento de formular a codificação, adotou o pseudônimo de Allan Kardec, nome que, segundo lhe revelara o seu orientador espiritual, ele tivera em uma encarnação recuada, enquanto sacerdote druida.</P

Adotando o pseudônimo de Allan Kardec, o Professor Hipollyte Léon Denizard Rivail deu grande demonstração não somente de fé, mas igualmente de humildade, considerando que seu nome civil era bastante conhecido e respeitado na França, não somente em virtude de suas obras publicadas, mas também porque descendia de antiga e conceituada família, cujos membros brilharam na advocacia e na magistratura.

Na busca da verdade, Kardec utilizou-se do método intuitivo-racionalista, divulgado por Pestalozzi (1746-1827), na investigação dos fatos, considerando o valor da análise experimental, através da observação e do uso do raciocínio, da analogia, para daí se extraírem, por indução, os resultados e se chegar a enunciados gerais. Dora Incontri, em sua obra Educação e Ética, elucida em que bases se deu a metodologia utilizada pelo codificador: “Procedei do conhecido para o desconhecido; do particular para o geral; do concreto para o abstrato; do mais simples para o mais complicado; primeiro, a síntese, depois a análise. Não a ordem do assunto, mas sim a ordem da natureza.”.

Kardec fundou, em Paris, no dia 01 de janeiro de 1858, a Revista Espírita, palco de maturação e divulgação das idéias espíritas, e, no dia 01 de abril de 1858, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, onde, durante mais de onze anos, com o concurso de estudiosos e cientistas de renome, se dedicou à pesquisa e ao estudo dos fenômenos psíquicos (Obras Póstumas, Feb, p. 294-295).

Passada a fase de curiosidade dos fenômenos, o Espiritismo foi muito perseguido, de todas as maneiras. Destaca-se, entre as perseguições, a inclusão das obras espíritas no Index Librorum Prohibitorum e a queima de livros espíritas na Espanha, pela Igreja Católica, no famoso episódio conhecido por Auto-de-fé de Barcelona.

Kardec sabia, por orientação da Espiritualidade Maior, que não teria tempo nem saúde para dar seqüência à imensa tarefa de divulgação da doutrina espírita e que outros trabalhadores valorosos continuariam o seu empreendimento. Ele estava consciente, também, de que, se quisesse aprofundar o trabalho que começou, necessitaria mesmo de uma nova encarnação. As leis naturais teriam que se cumprir sem privilégio algum para ele.

Depois de intensa atividade, à qual se dedicou com amor, lealdade, afinco e esforço heróico à causa, Allan Kardec desencarnou com 65 anos incompletos. O desenlace aconteceu em Paris, em 31 de março de 1869, quando estava trabalhando nos preparativos para mudança de endereço. Ao atender um caixeiro-viajante, que estava comprando um número da Revista Espírita, caiu fulminado por um aneurisma cerebral (acidente cardiovascular). Narram os seus biógrafos que o desenlace do mestre de Lyon ocorreu de forma bastante serena.

O corpo do codificador foi sepultado no Cemitério Montmartre, em Paris, na França. Durante o sepultamento, Kardec foi aclamado pelo astrônomo e escritor francês Camille Flammarion (1842-1925) como o “bom senso encarnado”, devido à sua grande inteligência, imparcialidade, discernimento, coerência, zelo e equilíbrio emocional que sempre orientou a sua vida particular e, especialmente, na condução da magna tarefa da codificação da doutrina espírita.

Posteriormente, numa homenagem dos amigos mais íntimos, seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério de Pere-Lachaise, conhecido como “Cemitério do Leste”, na mesma cidade, onde foi construído, em granito bruto, um dólmen (monumento ao estilo dos costumes dos povos druidas, com os quais partilhara uma de suas encarnações), com a seguinte inscrição em seu pórtico, que bem resume a doutrina espírita: “Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei.” Este monumento encontra-se, até hoje, no mesmo local, aberto à visitação do público.

Sem dúvida, o conhecimento da biografia dos grandes homens auxilia muito no entendimento e na interpretação de suas obras, que invariavelmente recebem grande influência do meio.

Publicado na Revista Cristã de Espiritismo, ed. 44.

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